sábado, 10 de setembro de 2011

Não esqueça, meu amor

Não se esqueça, meu amor, de que sou pó. E como pó que sou, eu saio a esmo. Voando pelos ares conforme o vento. Mais pesada conforme o tempo, mais leve conforme a poluição.
Não esqueça meu amor de que tenho tempo. Tempo contado para tudo. De viver e até de amar. E que como tudo, e como as rosas, eu sou efêmera. Mesmo em meus momentos de montanha, sou efêmera. Rochedo ao sabor das águas do mar.
E lembre sempre de que sou estrela. Explosão aérea, vista ainda muito tempo. Muito brilho, mas tão distante. E possivelmente, tu vês ainda meu brilho daqui, mas é possível que ele tenha se extinguido.
E não se esqueça meu amor, que nosso amor é onda. E que ele nada. E que ele luta. E que ele cresce, mas que morre na praia.
E além de água, nosso amor é fogo. É chama, é calor que nos abrasa. Mas como todo fogo que vira brasa, apenas um vermelho opaco, depois vem a chuva e novamente o apaga.
Assim sendo meu amor, sou pó, brilho, tempo e força. E como a natureza me esvaio sob teus dedos. Vou embora sem que tu possas me reter. Mas de todo pó, tu podes sujar as mãos. De toda água podes molhar os pés, de todo o tempo podes contemplar a passagem e de todo brilho podes ver a luz.
Assim, mesmo que não seja sua, fico um pouco com você. E quando enfim voltar à inconsciência primitiva, saberei que algo meu ficou com alguém.

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